A saúde psíquica do ser humano está relacionada ao reconhecimento das suas necessidades emocionais e a possibilidade de fazer escolhas que as atendam no meio em que vive. Durante o desenvolvimento, o indivíduo estabelece relações em diferentes contextos (familiar, social, escolar, profissional e religioso, entre outros) que influenciam a sua forma de sentir, pensar e agir no mundo. Porém, em alguns casos, o indivíduo encontra dificuldade em reconhecer, organizar e priorizar a satisfação de suas necessidades.
Neste momento é importante que os pais/cuidadores possam aceitar e confirmar as necessidades da criança, estimulando sua autonomia, ao mesmo tempo em que impõem limites que garantam uma sensação de segurança. O equilibro entre aceitação e limite facilita à criança discriminar e negociar entre as próprias necessidades e as do outro.
Alcançar esse equilíbrio entre aceitação e limite, principalmente no atual contexto sócio-cultural, não é uma tarefa fácil para os pais/cuidadores. Como exemplo dessa dificuldade, utilizamos o caso abaixo:
Pedro nasceu em uma família muito amorosa. Seus pais, Carla e Felipe, dedicavam-se muito ao seu desenvolvimento, garantindo um ambiente familiar agradável e uma boa educação. Aos cinco anos, Pedro ganhou um irmão. Apesar de todo o cuidado que seus pais tomaram na adaptação entre os dois, Pedro começou a apresentar uma atitude agressiva, inclusive com os amiguinhos da escola.
Essa foi a forma que Pedro encontrou para lidar com a raiva que sentia pela perda da atenção integral que recebia dos pais, um sentimento coerente com seu momento. Porém, para seus pais, a raiva era um sentimento negativo e diziam para Pedro que ele não poderia ser agressivo com os amigos da escola.
Esta é uma atitude natural de pais que querem educar e proteger seu filho. Além do limite estipulado, a aceitação e o acolhimento do sentimento (raiva) são importantes para que Pedro sinta-se ouvido e compreendido. Isso incentiva a criança a agir de forma coerente com suas sensações e sentimentos.
Portanto, é importante que Carla e Felipe digam para o filho que entendem que é um período difícil, mas que esta raiva não pode ser descontada nos amiguinhos, encontrando, juntos, novas formas de lidar com esse sentimento, como: bater na almofada, gritar bem alto, praticar esportes, entre outros.
Casos como o de Pedro, tão comuns no dia-a-dia das famílias, são mais simples de identificar a relação entre o comportamento apresentado pela criança e sua motivação – sentimentos, necessidades e emoções envolvidas. Porém, existem casos em que essa relação não é tão explícita ou simples de entender e, com o passar do tempo, a criança pode apresentar sintomas que prejudiquem suas relações (família, escola, amigos) e seu desenvolvimento. Nessas situações, a terapia infantil pode ajudar a identificar, entender e reconfigurar a dinâmica familiar.
A terapia infantil é um espaço imparcial onde a criança, após o estabelecimento de uma relação de confiança com o terapeuta, pode se apresentar de forma mais autêntica, reconhecendo e demonstrando suas necessidades, aprendendo a satisfazê-las de maneira mais saudável. É por meio de recursos lúdicos que o terapeuta identifica e trabalha as demandas da criança.
Já com os pais, o trabalho do terapeuta é ajudá-los a esclarecer suas dúvidas e inseguranças e, principalmente, facilitar o processo de entendimento das necessidades da criança e a aceitação de sua individualidade. Portanto, a participação dos pais de forma ativa no processo terapêutico é muito importante para que o momento da nova configuração familiar seja vivido de forma consistente.
