“Quando sofremos algum processo emocional, seja ele de cobranças ou medos, separações, decisões importantes a serem tomadas o nosso corpo age como uma válvula de escape”
Ana Pinheiro: Quando falamos em stress psicológico estamos nos referindo ao nosso dia-a-dia. Temos horários controlados para tudo; medo de assalto, de sair à noite. Somos cobrados e exigidos em tudo que fazemos. Vivemos em um stress psicológico o tempo todo. Para entendermos um pouco esse processo, há uma resposta muito simples. Nosso cérebro é o responsável por tudo. Ele não para nem quando dormimos. Quando sofremos algum processo emocional, seja ele de cobranças ou medos, separações, decisões importantes a serem tomadas, o nosso corpo age como uma válvula de escape. O corpo dá sinal de que tem alguma coisa ainda não bem interpretada pelo nosso cérebro. Seja uma dor de cabeça tensional ou enxaqueca, uma crise lombar, uma cervicalgia com irradiação para braços ou pernas, tendinites e vários outros sintomas que podem ser relativamente de fácil tratamento ou crônico. Isso porque o stress emocional causa aderência em uma estrutura que recobre os músculos, chamada fáscia muscular. A fáscia recobre todo o corpo, da cabeça aos pés, sendo comparada a uma malha de tricô, na qual um fio puxado em qualquer ponto resultará na distorção de seu formato em locais distantes do defeito inicial. Conectada à face interna da pele, a fáscia promove um constante feedback com o SNC. Hoje a fáscia é conhecida como esqueleto fibroso e a aderência entre estruturas que deveriam permanecer livres altera a musculatura e produz a dor. Essa estrutura se contrai dando origem aos nós de tensão que são conhecidos como Trigger Points ou pontos gatilho. Esses nós de contração não possuem um fluxo sanguíneo adequado sendo as causas mais comuns de dor muscular esquelética e incapacidade, capaz de devastar a qualidade de vida do indivíduo. Essas dores são tão fortes quanto de um ataque cardíaco ou mesmo cólica renal, fazendo com que esse indivíduo passe por várias especialidades médica e fisioterapêutica, sem nenhuma melhora significativa, uma vez que as dores desses pontos-gatilho imitam alterações encontradas em quase todas as especialidades da medicina, inclusive sendo a fonte de dor mais comum com queixa de dor músculo esquelética em crianças. Porém os trigger points não são ameaçadores à vida. Ocorre ainda que 71% desses nós estão em meridianos de acupuntura. Meridianos estes que estão associados às nossas emoções. Por exemplo, se alguns desses nós se encontram no meridiano do rim, podem estar ligados a um processo de medo, e se estiver no pulmão estará relacionado à tristeza. Todo esse processo corpo/mente/emoção onde se apresenta ainda fáscia/pontos gatilho e dor referida são componentes da Síndrome Dolorosa Miofascial (SDM) e os distúrbios mais frequentes associados são: a depressão, a insônia, o stress e a DORT. Enfim, tudo na nossa vida está interrelacionado, ou seja, corpo e mente são inseparáveis.
ANA PINHEIRO É FISIOTERAPEUTA E COLUNISTA CONVIDADA.
( CREFITO: 124236-F)