Dr. Mario Vieira Serra: Tem como objetivo a projeção e o alívio do sofrimento. A Psicologia Hospitalar é baseada na narrativa. Ela desenvolve e potencializa o encontro clínico. A medicina, partilhando com a Psicologia Hospitalar, preocupações de hermenêutica e ética, dão-nos os meios para identificar mecanismos quer da construção de narrativas, quer da sua interiorização, servindo as práticas clínicas e as orientações terapêuticas. Os beneficiários finais serão não apenas os doentes. Os médicos e também os profissionais de saúde serão beneficiados, visto que a análise narrativa, quer que a crítica ética contribua para melhorar as relações. O conceito baseia-se na convicção de que a consciência dos processos narrativos é crucial para as práticas médicas, complementando os métodos baseados na evidência. A atenção às histórias verbalizadas pelos doentes, bem como à sua linguagem corporal, requer empatia e tempo que tantas vezes falta em sistemas de saúde que oferecem hospitais, mas nem sempre hospitalidade. Os médicos e os profissionais de saúde se beneficiarão com uma aprendizagem dos modos de contar e adequar as suas narrativas, designadamente a notícia da doença e a explicação dos tratamentos. O estabelecimento de efetivo diálogo entre médico e doente para ultrapassar a barreira clínica é decisivo para o processo de cura e para a gestão da dor. O campo da medicina narrativa abarca não só as competências comunicativas, mas constitui, desde há muito, uma terapia.
MARIO VIEIRA SERRA É PSICÓLOGO E COLUNISTA CONVIDADO.
(CRP: 05.3050-5)