Andréa Melchiades: Os tipos de hérnias mais comuns na infância são: umbilical, epigástrica e inguinal. Elas surgem de maneiras diversas, não há como preveni-las e seus riscos são variáveis.
Para melhor compreendê-las, serão apresentadas separadamente.
Hérnia umbilical:
Causada pelo fechamento incompleto da parede abdominal na região umbilical no momento em que os restos do cordão umbilical regridem e caem. É desconhecida a razão pela qual algumas crianças não completam o fechamento e retração do umbigo.
Ocorre em cerca de 10% das crianças, sendo mais comum no sexo feminino e nove vezes mais freqüente na raça negra.
Apresenta-se como abaulamento na região umbilical aos esforços (choro, exercício físico, tosse e evacuação) e raramente é responsável por dor abdominal. Pode não ser notada por semanas ou meses após o nascimento e tende ao fechamento espontâneo na maioria dos casos, que ocorre habitualmente até os 3 anos de idade. Após essa idade é pouco provável que ocorra o fechamento espontâneo, estando indicada a cirurgia (fechamento do anel herniário).
Complicações como encarceramento (saída de conteúdo abdominal – alça intestinal, ovário, apêndice, gordura e etc) são extremamente raras e ocorre com mais freqüência nos adultos.
Hérnia epigástrica:
Caracteriza-se pela protrusão da gordura pré-peritoneal através de pequeno defeito na linha média da aponeurose anterior. A localização é sempre mediana, o diâmetro do orifício herniário é habitualmente pequeno e, caracteristicamente, a hérnia raramente é redutível.
Costuma ser sintomática com queixa de dor espontânea e à palpação.
Sempre tem indicação cirúrgica.
Hérnia inguinal:
A hérnia inguinal é a condição cirúrgica mais freqüente na criança.
Durante um período da gestação há uma comunicação do interior da cavidade abdominal com o escroto através do conduto peritoneo-vaginal (no homem) e conduto de Nuck ( na mulher). O conduto normalmente se fecha ao final da migração do testículo. A persistência parcial ou total do conduto é a condição que determina o aparecimento da hérnia inguinal.
Existe propensão familiar para o desenvolvimento de hérnia (mais de 10% dos casos têm outros familiares também com história de hérnia).
A incidência da hérnia inguinal é de aproximadamente de 3% nas crianças nascidas a termo e de 8% nos prematuros. Acometem preferencialmente o sexo masculino e o lado direito.
Geralmente surge como um abaulamento na região inguinal (acima da virilha) aos esforços.
O tratamento da hérnia inguinal é sempre cirúrgico e o melhor momento para se realizar a cirurgia é por ocasião do diagnóstico, devido ao maior risco de complicações (encarceramento e estrangulamento). Quanto menor a criança maior a tendência ao estrangulamento e, portanto, mais precocemente se deve realizar a cirurgia.
No sexo masculino o conteúdo encarcerado mais freqüentemente é o intestino delgado e pode comprimir também o cordão espermático e provocar sofrimento vascular do testículo com comprometimento da sua função posteriormente.
No sexo feminino são o ovário e trompa que encarceram na maioria das vezes.