A princípio podemos dizer que não é característica da dependência química ou de nenhuma adicção (termo mais amplo e mais complexo), seja ela ao sexo, jogos, álcool, internet, etc., procurar ajuda, pedir ajuda ou aceitar ajuda. O que é mais comum é o dependente proteger seu uso, escondê-lo, através de manipulações, mentiras, não reconhecendo o problema e, sendo mais enfático, negando-o. Negar o problema, o uso, é na verdade uma característica básica da adicção. Tanto que muitos se referem a ela como a doença da negação.
Salvo raras exceções, o que geralmente vemos, e isso não é de forma nenhuma uma regra, é o dependente químico procurar ajuda quando sua vida chegou a um verdadeiro caos. Este ponto é comumente chamado de “fundo de poço”, não que o dependente procure ajuda só quando chega a este estado, mas certamente isso é o comum. Às vezes uma internação, de preferência numa clínica especializada em dependência química, é proveitosa como: proteção, promoção de reflexão, e até mesmo como início do tratamento.
Como disse no início, é comum o dependente químico não procurar ajuda. Assim, quem geralmente procura o profissional especializado, são os familiares do dependente. Esse fato não acontece à toa. São os familiares que geralmente estão sofrendo com a situação e querem ajudar o seu membro em sua dependência química. O que geralmente a família não percebe é o quanto ela está envolvida e nem na força que ela possui para produzir mudanças tanto na família quanto naquele que está sofrendo de uma dependência.
O que observamos é que na grande maioria das vezes os familiares adoecem com o paciente. Em primeiro lugar podemos afirmar que para os familiares também é difícil admitir o problema do filho, do marido, do pai, etc. Vários padrões internos de comportamento são estabelecidos para lidar com a situação que apresenta o adicto. A perda de controle e a impotência perante o químico por parte do dependente geram comportamentos, ao qual, a família irá tentar se adaptar para restabelecer o equilíbrio, a união e o controle.
Na tentativa de manter este tripé, principalmente o controle, os familiares, pelo desconhecimento do funcionamento da adicção acabam adoecendo suas relações, é o que se chama comumente de co-dependência, uma relação doentia com o dependente.
Se o paciente não quiser procurar tratamento, o melhor que pode ser feito são os familiares procurarem ajuda. Com a orientação e o trabalho de profissionais adequados, como é oferecido pela Santa Casa de Misericórdia, no centro do Rio de janeiro, ou mesmo por profissionais particulares, dessa forma será possível que a própria família restabeleça novas aliança e sinta-se mais feliz e produza também no próprio paciente a precipitação de uma demanda de tratamento.
É importante dizer que essa procura de ajuda por parte da família pode e deve ocorrer, tanto quando o paciente não iniciou o tratamento de recuperação, quanto após o início de seu tratamento de recuperação.
O caminho do tratamento familiar de um dependente químico realmente tem dado muitos resultados positivos. É sem dúvida uma forma de abordagem que tem obtido bastante eficácia.
ALEXANDRE BALBI É PSICOLOGO E COLUNISTA CONVIDADO.
(CRP: 16407)